O povo está com o sentimento da traição atravessado na garganta. Acordou, e a sensação de que foi enganado gera revolta. Não é difícil imaginar o que uma pessoa traída e revoltada é capaz. E isso explica quase tudo. Para alguns, a palavra é baderneiros. Para quem está no olho do furacão, com o punho em riste, baderneiros tem outro significado, vira revolucionário. Alguém que deseja vingar a traição e romper paradigmas. E não adianta o Willian Bonner dizer que não é por ai… Estamos diante de uma revolta sem comando. O vandalismo é apenas conseqüência. Sempre foi assim ao longo da história. Mas a história, poucos conhecem e não é por acaso que a política brasileira está mergulhada em um buraco sem fundo.
O revolucionário, ou baderneiros, como querem os formadores de opiniao, não quebram o que encontram pela frente por que acham certo, mas por que não podem fazer o que gostariam com quem eles atribuem responsabilidades. Estamos falando dos políticos, especialmente os corruptos e incompetentes. As palavras perderam o valor no Brasil. Vale o discurso oficial, ou os interesses que levam ao poder. E nesta corrida, vale tudo, com os fins justificando os meios. A recíproca é verdadeira. Agora vai valer tudo nas ruas. E Nesta hora o instinto animal e o sentimento passional falam mais alto e são incontroláveis. Mais uma vez a historia nos mostra semelhanças, com uma pequena diferença. As proporções do que ocorre hoje numericamente são preocupantes.
Por hora são milhares, e a PM está dando conta de controlar, mas em breve ela não vai mais conseguir conter milhões que compartilham do mesmo sentimento de indignação, que não aceitam mais palavras falsas, falácias. No coração de cada um dos manifestantes habita um desejo de mudança e uma coragem desmedida. O povo na rua não tem audição. Cabe ressaltar ainda que, ao contrário do que dizem, não há nenhuma novidade no que está acontecendo, o Brasil já viveu isso algumas vezes. Os resultados foram positivos. Com efeito, vale lembrar que está apenas começando. A surpresa, no entanto, é que isso era inimaginável a alguns dias. Ninguém esperava.
Não é para menos, motivos não faltam. O momento é de ouvir os historiadores. A Democracia é maravilhosa, quando bem gerida por quem governa. Mas pode virar o caos, quando os interesses do povo dão lugar aos interesses de uma minoria. O povo cansou da roubalheira. Não quer mais o cinismo de Renan Calheiros. Não aceita mais 39 ministérios inúteis para atender partidos e seus caciques. Não admite um Judiciário leniente e omisso. Não quer mais se submeter a um modelo partidário apodrecido. Não concorda mais com um rosário de absurdos que todo mundo conhece de cór e salteado. Irônico, se não trágico é imaginar que tudo está acontecendo no meio de um evento esportivo que tem o futebol como vitrine. Há quem diga que a culpa é dele, por ele ser o ópio do povo. Será que a baderna é efeito do ópio ou o Brasil acordou do sono profundo que esteve por 30 anos?
Jose Aparecido Ribeiro
Filósofo e Especialista em Assuntos Urbanos.
Presidente do Conselho Empresarial de Política Urbana da ACMinas CRA MG 0094 94
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