Depois de ficar preso por 266 dias no ano passado sob acusação de comandar uma rede de tráfico de influência envolvida com negócios públicos e jogos ilegais, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, está aos poucos restabelecendo velhas conexões políticas e empresariais.
Argumentando que as provas da Operação Monte Carlo serão anuladas, Cachoeira faz reuniões em casa com amigos e empresários, especialmente do setor de coleta de lixo. Entre os convidados, está Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construções no Centro-Oeste, vizinho do contraventor e também réu na Justiça.
O que Cachoeira ainda não conseguiu foi marcar sua volta à sociedade de Goiânia. Sua mulher, Andressa Mendonça, é requisitada em festas e eventos sociais. “Ele nunca foi das ‘altas rodas’ da capital. É de Anápolis e, por mais que tenha dinheiro, não é de família tradicional”, diz um parlamentar que atuou na CPI do Cachoeira na Assembleia de Goiás.
A comissão terminou em pizza na última semana, sem indiciamentos ou relatório final. Segundo deputados da oposição, os aliados do governador Marconi Perillo (PSDB) literalmente se esqueceram de votar o texto.
A exposição pública de Cachoeira – condenado a quase 40 anos de cadeia – tem sido evitada, especialmente após o flagra em um resort de luxo na Bahia, com diárias de R$ 3 mil. Há mais ou menos duas semanas, a defesa ordenou que o contraventor submergisse para não atrapalhar a montagem de um figurino mais discreto para quem ainda responde a ações na Justiça. A personalidade expansiva e articulada do contraventor sempre preocupou os advogados que o defendem.
Sob os cuidados do criminalista Nabor Bulhões, Cachoeira tornou-se evangélico na prisão e estabeleceu uma rotina de cultos semanais em casa. Na nova fase, ele pega os filhos na escola, deixou de frequentar a noite goiana e agora encomenda jantares em casa nos melhores restaurantes da cidade.
“É uma orientação pessoal dele e que casa com a nossa. Ele está muito discreto e focado na família e nos processos. Carlinhos está trabalhando na defesa. Isso tudo absorve bastante tempo”, afirma Nabor, negando que ele tenha retomado a vida empresarial.
Delação. Sobre uma eventual colaboração com a Justiça, Nabor responde: “Não aceito assistir cliente que cogite a delação. É uma questão de princípio”. Ao deixar a cadeia, Cachoeira prometeu revelar tudo o que sabia e anunciou ser o “verdadeiro garganta profunda do PT”. Até agora, nada veio a público.
Mesmo condenado, Cachoeira aguarda em liberdade o trânsito em julgado da sentença. O Ministério Público avalia a possibilidade de novas denúncias por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção. Uma força-tarefa foi montada para analisar o fluxo financeiro da organização criminosa, e os volumosos saques em espécie já despertaram a atenção dos investigadores.
Para a procuradora Léa Oliveira, uma das autoras da denúncia contra Cachoeira, o resultado da operação é positivo. “Só nos ressentimos de que, se não fossem os vazamentos de setores de onde não esperávamos, conseguiríamos ter desenvolvido uma persecução financeira do grupo. Mas levantamos o véu que cobria uma realidade extremamente complexa.”
A procuradora não descarta a possibilidade de o grupo criminoso ainda estar atuando. “Conseguimos desarticular temporariamente o grupo, mas não desmantelá-lo completamente.